sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vale a pena?

Inapto. Assim que me consideraram no Banco de Sangue do Hospital Conceição hoje, porque há três dias estou com, como descrevi para a enfermeira que me entrevistou, "uma tosse com um pouco de catarro não amarelo no comecinho da manhã."

"É, pois é, não podemos correr riscos, temos que prezar pela saúde do receptor, volte depois de uma semana terminado todos os sintomas de resfriado, porque
você provavelmente está com uma infecção viral."

Mas o que me incomodou não foi exatamente terem dispensado meu sangue no momento. >>O problema foi<< que a entrevista se deu DEPOIS de 30 minutos de espera e depois de uma técnica de enfermagem ter espetado meu dedo para retirar uma amostra do meu sangue, medido a pressão e me pesado.

Saio puto da cara e a mesma técnica de enfermagem ainda me pegunta se está tudo bem. Respondo um indignado 'sim', e pedem que eu vá de elevador - que é o que pedem depois que tu doa sangue. Reprodução automática pra quê, minha gente?

Sério, não vai ser a uma hora e meia de procedimento super-burocratizado que vai me deixar de doar sangue voluntariamente - talvez só me faça doar com menos frequência já que é difícil achar tempo antes das 17h que é quando fecha o banco. Não é ter que mentir que não sou homossexual, embora ter de fazer isso não me faça bem. Agora, ser tratado dessa maneira, num total estado de pânico social facilmente observável nos tipos de pergunta que nos fazem nos formulários, pode me deixar puto. Algum conformado estúpido poderia dizer "Ah, mas o que tu esperava do SUS? Serviço feito de graça aqui no Brasil é assim mesmo." Oi!? Tu esperava o quê, que eu pagasse pra doar sangue (e ser bem atendido)!?


Se tem pessoal e equipamento, porque o descaso então? Porque ficar batendo papo no corredor e deixar os doadores esperando? Me incomodo, sim. Se não fosse eu, quem iria se indignar com algo que passa tão desapercebidamente? Eu, estudante, da área da Saúde, eu sim, critico. Criam tantos critérios de exclusão, estigmatizam e discriminam com a desculpa última da saúde. Afinal, quem não acredita no que eles, "especialistas na área", dizem? Minha motivação pela Luta Antimanicomial - e, enfim, por uma melhor Saúde Pública no Brasil - só ganha força depois disso.

"They declared me unfit to live"

sábado, 23 de abril de 2011

Daqui Rumo ao Agora

Trovões rasgam o céu, iluminam o escuro
Deixado pela tua ausência entre as estrelas
Que nunca deixaram de brilhar por medo que estejas
a olhar outras constelações no meio do obscuro..

Risco ríspido que rasga as ruinas, rastros rasos
De uma longa jornada para te encontrar nessas frias
estradas que trilhamos, eternas noites sombrias
sem sinal ou final, apenas riscos de luz dos fardos..

E onde estamos agora? estamos em nós, afora
um no outro? ou estamos sós, afogando-nos
em vazios a dentro, nas lacunas do agora?

E eu me encontro dentro de ti, onde abraçamo-nos
prometendo uma vida de projetos, sonhos em aurora
Sonhando encontrar-te enquando beijamo-nos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Janelas de catedrais vindas dos Céus




Não tem amor melhor que esse, meu amor. 
Janelas de catedrais vindas dos Céus, coloridas e lindas iluminam os seus olhos tímidos envolvidos em construirmos nosso castelo. As cadeiras onde observamos o movimento são de madeira simples. Existe um rio logo perto- calmo e saudoso. E na cama, uma colcha de retalhos feita de memórias distantes, não findas e não compreendidas nos abraça. O cheirinho de bergamota no ar traz a alegria de estar na minha não-oficial terra. E aconchegar-me nos seus braços sempre tão dispostos, sempre carinhosos é o reencontro com o meu desenho das árvores sobrepondo-se ao laranja do pôr-do-sol, o reencontro com a capela da minha infância, o reencontro com meus sonhos, o reencontro comigo mesma! E com você!
Não tem amor melhor que esse, meu amor.
O coral de jovens canta hinos sublimes e todos caminham de mãos dadas rumo ao que está à Frente.
As pessoas falam sobre uma nova Era, de Amor e de União. Vejo-a em você, coração.
Vejo a gente em você, vejo o tempo em você, amor.

terça-feira, 22 de março de 2011

Corta Essa!

Larguei de mão de ser poeta. Tá louco! Cansei de ficar me fazendo de vítima, de transformar o que vivo em coisa bonita, em coisa que mexe. O que vivo me mexe, o que amo me faz mexer, "amor é tudo que move", não é, Gilberto Gil?

Corta essa: decidi viver sem poesia. Faço prosa, prosa, prosa. Tá, eu sei. Prosa poética, né Carpinejar? Deixei de fazer poemas, então. Larguei essa de grande amor. Faço o que passo ser maior ainda por poder enfiar lirismo em tudo que vejo, mas optar ser um pouco cego. É aquela história de perceber o bem só depois que o perdemos. É a vontade de não saber, meu Foucaultzinho.

Não dava mais: decidi viver a minha melancolia e não fazer de conta que a superei. Fui fundo, mais até do que deveria, pra cortar o treco pela raíz. Não dava mais pra mascarar tanto sentimento com um poema, por mais potente que fosse. Não, eu ter ficado mal a semana toda não me levou a nada, não me fez tão maior assim. Rafael Sonic sempre me lembra o quão grande que é ser pequeno, e isso me inspira.


Não, deixar de ser poeta não dá. Mas como se é fotógrafo mesmo sem uma câmera, eu estou sendo um poeta sem poesias. Minha rima fica ali no torpedo SMS de boa-noite; minha métrica, no fim-de-semana tão aguardado; meus versos não se formam quando estou de pé, no trem, e minhas estrofes... Quem precisa de estrofes? Talvez eu tenha as abandonado. Nunca fui muito de lirismo comportado, assim como meu amigo Bandeira.

Bah, que chato. Isso é verdade: com os textos acadêmicos que tenho lido e escrito, peguei a "mania" de citar o autor de toda ideia que exponho. Justo. Justo e chato. Mas é prosa, então tá valendo.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Árvores Grandes Sobrepondo-se ao Laranja do Céu no Papel Amarelo

Eu tenho certeza que era alguém melhor quando pequena. Quando desenhava árvores no pôr-do-sol. Quando era devota. Quando sorria sem compromisso. Eu era grande quando pequena isso já é comprovado. Perdoava fácil. As dores escoavam. Eu pulava e mergulhava com maestria. Tinham plumas me conduzindo às cores do vento.
Tenho saudades dessa época em que meu cabelo era mais brilhante. Tenho saudades de quando um elogio bastava. De acordar cedo para fazer um bolo de chocolate para o café da manhã. De me doar.  A capela do meu antigo colégio. A simplicidade bonita.
Quero voltar ao dia em que meu pai brigou comigo e desenhar mais uma vez aquelas árvores grandes sobrepondo-se ao laranja do céu no papel amarelo.
             E dar para ele com todo o meu amor.

O chão pisado é de um azul royal

Colorido de açaí e de frutas vermelhas, seu castelo de pedras, ajoelha-se para o violão recostado. Preenchimento de espaços, segura a minha mão para atravessar a rua. Pintam-se as cartolinas do colégio, o chão pisado é de um azul Royal. Tantas cores que tem nessas suas mãos e elas passam pelas minhas pequenas rugas do rosto, deixando-as encantadas. Continue a encantar, é ar!   É luz!        

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Anedota ou Get Happy ou Como as pessoas se autoboicotam



( Quando enxerge o outro. Momento I)
Esses cílios retos e tão pretos compõem a moldura para irradiar as amêndoas brilhantes que existem nos seus olhos.  E sua barba traz a nostalgia de ser mulher de alguma existência pregressa... Pois sua voz tem uma doçura e guarda uns espaços de tempo que me constrangem. O papel que envolve essa florzinha entende o que sinto, ele se rende quando o abrem. E assim o faço: rendo-me a felicidade.  

 ( Quando passa a desejar o outro. Momento II)
Quero ficar morena, da cor da sua pele dourada, quero meus dentes brancos, claros que nem seu sorriso. Quero seus lábios colados nos meus, feitos para assim estar. Quero continuar a história que eu já criei, pois sei que assim será. Quero continuar nesse leve estar, de ficar olhando suas fotos e serena com o que está porvir. 


 ( Quando está vivendo o romance e o coração vacila. Momento III)
Olhando o horizonte, eu sentia seu coração bater acelerado me dizendo coisas que o silêncio não revelava.  E eu não entendia nada desse romantismo simples e sincero.

  E como agora se comporá o final? 

(  ) Para os românticos: 
É que esse seu olhar de café preenche de cheiros meu olhar de água escura [de mar do Sul] condutor da possível vida ainda por existir- condutor do amor e da amizade- condutor da alegria dourada!-Espero por você, sim. Estarei de braços abertos quando estiver pronto para caminhar comigo na luz do sol. Sorrirei e você entenderá que está tudo bem e agora basta um beijo calmo para curar. 

(  ) Para os céticos: 
-Foi só o medo de ficar sozinho novamente. Foi só o tesão falando-....
Ee a princesa não deu chance para ele, não deu chance ao tempo de surgir um outro sentimento, matou-o cedo com sua busca por perfeição.  A inflexibilidade de alguém sem vivência, a ingenuidade de almejar o perfeito! Passos solitários e amargurados deixam os pés da princesa pesados. Passos solitários e amargurados: não têm ninguém lhes esperando na esquina da rua. E surge a pergunta terrivelmente cruel: "E se? "  Cena escurece com uma música bem melancólica ao fundo.



Mas isso magoa a gente que tá só querendo viver um dia após o outro. A perfeição é um horizonte que  se distancie quanto mais nos aproximamos dele. Princesa, Vive, Vive e muda esse final de história triste! Não há porque ser assim, beije o mundo, seja feliz! A felicidade invade o meio do peito e formiga até a ponta dos dedos explodindo em clareza de pensamento, em clareza de sentir e de ser grato. Um campo selvagem também é bonito e merece ser amado..... 


O que você escolhe ? Porque, na verdade, só existe um final lhe esperando: o feliz. Mas como você acha que ele acontece? 

"Feliz é a inocente vestal!
Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança"

Não seja um tolo . 
Não seja esquecível.
Faça sua vida acontecer.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011




Música nova, gente! Ok, a qualidade da gravação está bem precária e o meu amadorismo também não é capaz de tornar a música mais bela. Entretanto, espero que possam apreciá-la com as devidas considerações já apontadas.

P.S: Em breve mando a versão final da música. 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Não me abandone jamais

(eu postei antes aqui: www.cafecommeleleite.blogspot.com
mas aí hoje percebi como faria muito mais sentido dividir com vocês. )




"baby, baby... never let me go"


Existem livros bons. Livros ruins. Livros ótimos, livros bem-escritos. Mal-escritos. Obras-primas. Livros famosos e livros "de polpa". Best-sellers e aqueles que só a família do escritor lê. Tem também aqueles que nem a família do escritor lê. Tem os fenômenos. E aqueles que a crítica descem o pau. Tem os livros que a gente empurra página por página goela abaixo, não vendo a hora de chegar no fim. E aqueles que a gente devora. Tem livros que mudam as pessoas e outros completamente esquecíveis.
E tem aqueles livros, raros livros, que parecem feitos pra gente.

Então não importa a opinião da crítica ou o quão tecnicamente aperfeiçoados eles são. Na verdade, não importa nada disso aí de cima. Tudo é irrelevante, a não ser aquela relação de cumplicidade que se desenvolve entre leitor e leitura durante as horas compartilhadas juntos.
Eu sei que é meio piegas falar assim, mas eu não conseguiria descrever de outro jeito Não me abandone jamais. Claro, essa é uma descrição muito pessoal. Talvez até demais. Mas quando esse tipo de laço se desenvolve com uma obra é impossível falar sobre ela como quem analisa de fora. Eu ousaria dizer que é até um desperdício querer analisar, por exemplo, a estrutura narrativa, o quão crível são os personagens, os pontos de virada e os truques estéticos. Às vezes acontece de uma história nos afetar além do racional ou da superfície emocional provocadora de lágrimas, ela nos atinge em algum lugar meio desconhecido e, de repente, é como se ela fosse parte de nós mesmos. E só dá vontade de ler, ler e ler, de imergir completamente pra dentro desse novo universo, de ser parte do livro. Dá vontade de ler rápido e chegar logo ao final e, ao mesmo tempo, dá vontade de que a história nunca realmente acabe.

Eu acho que é isso que os professores querem dizer quando mencionam "a magia da leitura". Ou não. Mas pelo menos, pra mim - que não sou professora - é isso que significa. Essa é a magia. Essa sensação de ter encontrado um refúgio que é só teu e, ao mesmo tempo, uma companhia cheia de personagens e de vida. Essa coisa de apoderar-se da história e de repente ela é a sua história favorita e ai de quem falar mal do livro, ou dizer que não gostou! Dói como se a pessoa tivesse ofendido a nós mesmos. "Sério que tu gostou desse livro? Eu achei uma porcaria!" é quase como um "Pelo amor de deus, Fulaninha. O que diabos tu fez na cara? Tá parecendo uma ogra assassina".

E foi isso que "Não me abandone jamais", depois de 18hs lendo sem parar, se tornou pra mim. Uma extensão, um pedacinho de mim mesma escrita em 344 páginas. Talvez, eu diria, um pedacinho muito melhor e mais lindo que qualquer outro. O meu melhor.

"Ruth, por falar nisso, foi apenas a terceira ou quarta doadora que pude escolher. Já havia uma cuidadora designada para ela, na época, e lembro-me que foi preciso uma certa dose de coragem de minha parte. Mas no fim dei um jeito, e assim que a vi de novo, naquele centro de recuperação de Dover, nossas diferenças - ainda que não tivessem exatamente sumido do mapa - não me pareceram nem de longe tão importantes quanto tudo o mais: o fato de termos crescido juntas em Hailsham, o sabermos e nos lembrarmos de coisas que ninguém mais sabia ou das quais ninguém mais se lembrava. Foi dessa época em diante, imagino, que comecei a buscar nos doadores pessoas conhecidas no passado e, sempre que possível, de Hailsham.
Houve épocas, no decorrer desses anos todos, em que tentei esquecer Hailsham e me convencer de que não seria bom ficar olhando tanto para trás. Porém num determinado momento simplesmente parei de resistir. E isso teve a ver com um doador em particular, de quem tomei conta certa feita, no meu terceiro ano como cuidadora; com a reação dele quando comentei que era de Hailsham. Ele tinha acabado de sair da terceira doação, que não dera muito certo, e já devia saber que não iria se safar. Embora mal conseguisse respirar, me olhou e disse: "Hailsham. Aposto como era um lugar lindo". Na manhã seguinte, batendo um papinho na tentativa de distraí-lo daquilo tudo, perguntei de onde ele era; o doador mencionou algum lugar em Dorset e sua expressão, por baixo da pele manchada, passou a um tipo bem diferente de esgar. Foi então que caí em mim e percebi a vontade imensa que ele tinha de não se lembrar de nada. Tudo o que ele queria era que eu falasse de Hailsham.
Portanto, durante os cinco ou seis dias que se seguiram, contei-lhe tudo o que ele quis saber, enquanto, do leito, ele me ouvia fascinado, com um leve sorriso nos lábios. Falei dos nossos guardiões, das caixas com as coleções que eram guardadas debaixo da cama, do futebol, das partidas de rounders, do caminho estreito que contornava todos os cantos e recantos externos do casarão, do lago com os marrecos, da comida, da vista que tínhamos das janelas da Sala de Arte pela manhã, com os campos cobertos de bruma. Às vezes ele me fazia repetir vezes sem conta a mesma coisa; algo que eu mencionara no dia anterior voltava a ser alvo de perguntas, como se ele nunca tivesse escutado uma única palavra sobre o assunto. "Vocês tinham um pavilhão de esportes?" "Quem era seu guardião predileto?" De início, pensei que fosse apenas efeito dos remédios, mas depois me dei conta de que ele estava bem lúcido. Mais do que ouvir falar de Hailsham, ele queria se lembrar de Hailsham como se Hailsham tivesse pertencido a sua própria infância. Sabia que estava perto de concluir, de modo que me fazia descrever as coisas de forma que elas penetrassem de fato em sua lembrança. A intenção dele, talvez- durante as noites insones devido aos remédios, à dor e à exaustão -, era tornar indistintos os contornos que separavam as minhas memórias das suas. Só então compreendi, compreendi de fato, quanta sorte tivéramos - Tommy, Ruth, eu, na verdade todos nós."

título: Não me abandone jamais [Never let me go]
escritor: Kazuo Ishiguro
tradução: Beth Vieira
editora: Companhia das Letras
páginas: 344
ano: 2005






--


E tem o filme. É com a Keira Knightley, a Carey Mulligan e o Andrew Garfield. Foi lançado nos EUA ano passado e eu acho que chega aqui no Brasil em maio. Já tem pra baixar em alta resolução. De qualquer jeito, leiam o livro primeiro. O filme também é lindo, mas leiam o livro primeiro.