quarta-feira, 12 de maio de 2010

"Estou morrendo de saudade, Rio teu mar, praias sem fim, Rio você foi feito para mim"


Saudades das caras de todas as cores, dos passos apressados, da euforia compartilhada pela multidão ao atravessar a Avenida Presidente Vargas. De sambar até o sol raiar, dos doces amores. Do sabor tropical do açaí, da confusão, de suar com o calor de 40 graus, de cantar cantigas no bondinho, das ruas antigas,da brasilidade, do meu passado, da singular poesia dos contrastes! A miscigenação, o povão, a diversidade, as maravilhas, as maratonas do Odeon, a caipirinha na Casa da Matriz, as tardes na casa de amigas, ler João Cabral de Mello Neto no metrô ouvindo para casa, ouvir Betânia! Ah, a pátria sentida, minha cidade maravilhosa, aquela parte de mim que jamais deixarei de ser e que levarei para meu caminho!Ah, aquela espontaneidade, aquela democracia de ser só mais um sobrevivente no meio da galera. Os vendedores ambulantes, o constante estresse contrastando com a paz do mar, a vida cosmopolita e os opostos invadindo nossas veias.
Tenho saudades infindas de ouvir meu pai treinando o violão e, desde pequena, a escala de dó continua a ressoar no meu ouvido como uma eterna prece.
Rio de Janeiro é pura musicalidade, é pura vida! E as cores continuam a saltar aos meu olhos! Saudades das grandes lições do maestro soberano Tom Jobim, bossa nova me fez ser mais gente. Saudades de não conhecer sequer metade da minha cidade. Saudades de odiar aquele saxofonista desafinado no Largo da Carioca, saudades de descobrir cantos, das viagens a Araruama e de ler Morro dos Ventos Uivantes na rede da Ju e de justo na semana em que fui a sua casa de praia ter chovido sem parar- é muita sorte mesmo. Saudades do pavê da dona Maira, saudades da lasanha da avó da Gabi! Saudades dos amigos professores que fiz e de chorar pelas partidas deles, saudades da quinta,sexta e sétima série, das guerras de giz, de ficar gravando videos de música numa fita de VHS e de "tiny dancer" ter sido minha música durante todos os meus 12 anos. Saudades de tocar escondido o piano da Natália! Saudades, sim, de ter orgulho ao entrar na Escola de Música Villa-Lobos. Saudades de ir ao Theatro Municipal com minha amada mãe, de ouvir Irene ler Tabacaria para mim, saudades dos esplêndidos capuccinos com Lívia, de ver péssimos filmes, de fazer cheesecake e de dançar, dançar samba, jazz, pop, tudo! Saudades de não saber nada, saudades de todo o caminho que me fez chegar até aqui! Saudade das minhas primeiras noites com identidade falsa na companhia de Roberta! Saudades das risadas sem fim com as meninas do CEL, das mais maravilhosas conversas no banheiro! Das peças de teatro, de interpretar Fernão de Magalhães e de poder dizer:" Terra à vista!"
Ah, saudades de perceber como fui feliz apesar dos penares.Saudades de sair correndo de pés descalços pelo colégio quando tinha 7 anos e de levar bronca da freira, dessa época em que meu cabelo era mais brilhante; vontade de ser criança e de ficar sentada na capela. Os choros das professoras quando fui embora, os bons conselhos que ouvi, as bênçãos que recebi. Saudades de todo o carinho que recebi e dei, saudades de ser grande quando pequena. Saudades de pisar o pé na areia, de beber água de côco! E também água com gás minalba! Saudades da turma do Helvécio e de ouvir por inúmeras tardes bagaceirices de uma turma repleta de garotos. Saudades dos almoços do meu pai, de acordar com o álbum família jobim, de rodopiar com a propaganda da Varig tocando Rhapsody in Blue, saudades de cozinhar petit gateau também. Grandes saudades de desenhar. Saudades da Cultura Inglesa na Vila da Penha! Galerinha do bem! Saudades da Rádio Cidade!
Saudades de quando comprei meu primeiro allstar, saudades dos exemplos que tive e que já passaram por minha vida, saudades do quanto cada lugar tinha tanto significado e continua tendo,afinal, só que de uma maneira diferente. Saudades das descobertas, do gosto do novo, das possibilidades que pareciam tão vívidas ali na minha frente. Saudades de buscar minha mãe no trabalho com meu pai, saudades de abraçar a árvore do Tom, saudades do meu abençoado caminho das palmeiras, saudades, simplesmente.