terça-feira, 15 de junho de 2010

DEVANEIOS
Eu sou em mim mesma todas as possibilidades de ser errante não concretizadas. Todas as virtudes e todos os vícios, toda o rancor, toda a culpa fruto do peso dos ascendentes, todo o mistério profundo do inconsciente com o consciente e aquele papo por demais de interessante, sou muita dor que nem sei de onde vem. Talvez, é da memória residual da vida constante, do passado prestes a ser desvelado, da sabedoria cosmo-universo, do entendimento espírito. Estou tentando chegar até a mais alta poeira estelar. Estou tentando me perdoar. Estou tentando esquecer. Coisas pequenas me afligem tanto, mas com as coisas grandes já me acostumei. O nojo sobrevém o adorar, pois aquilo que dizem sobre amor e ódio serem tão próximos é verdade, e o óleo e a água se misturam numa taça de vidro, fazendo confuso seu gosto; ah, não, o caminho dos ladrilhos amarelos virou um círculo e nada tem mais nada a ver.

Eu sou em mim mesma o que nem sei, eu sou em mim o poder de surpreender, da previsibilidade doída, de chorar tanto e tão pouco, de me consumir pelo menor erro, de ser impulsiva e orgulhosa, de amar o que dói, de não desistir nunca, de ser mais densa que o céu.

Construindo crenças sobre um castelo torto, é cansativo às vezes pensar no passado, é tão mais fácil negar tudo, é tão mais fácil sorver aquele veneno alheio que contamina e isso não é bom. Porém, não consigo seguir o caminho mais desidioso, não é concebível ser fácil.

Lençóis azuis como o mar, confetes de prata, desencontros, tantas batalhas mal-sucedidas e continua a doer. Continua a doer sobre tudo aquilo que sonhamos, pois disso sou só, sem você.

Devaneio total, gostar do que é ruim para si não lhe foi cabido nessa vida, amada. Não tome para si a batalha da sua mãe, não precisa escolher alguém tão parecido com seu pai, não precisa de nada disso. Deus lhe deu asas para ir muito mais longe, nossos caminhos são distintos e convergem para um mesmo fim; nesse séculos XXI grandes resoluções nos aguaram e, Flávia, você terá muito trabalho a fazer, ser-lhe-á cabido o exercício da compaixão e, para isso, terá que lavar esse pobre e tolo coração. Faça da sua inconstância um balanço com ritmo próprio, faça das dúvidas o poder de sempre observar as coisas sob todos os ângulos possíveis e, quando crer que descobriu uma verdade, certifique-se disso, pois pode não ser pros outros, pode não ser para todas as situações. Faça o melhor que puder, faça mesmo. Seja boa, mesmo que digam que é demais, pois nunca é demais o que falta nesse mundo. Flávia, descansa em paz. Flávia, você tem o mundo lhe esperando para ser conquistado, a beleza está aí, quantas bênçãos vêm em balões coloridos, em sons metálicos, em sons de sino, tão divinos numa manhã de domingo.

Você veio para ser grande e insiste em ser pequena por causa da culpa irracional, impossível de ser explicada, culpa que você carrega por milênios de horas de dor, milênios de horas caducando sobre coisas que já caducaram e por isso não devem ser mais caducadas, as coisas que mais nos marcam são as interrompidas e por isso os homens choram, os fatos que nos fazem o que somos são aqueles dos quais resolvemos esquecer ou que se esconderam num bueiro e sequer tornaram a acontecer; e nos moldamos, assim incompletos, insatisfeitos de sei lá o quê. De poeira estelar, provavelmente!

Vendemos essa metafísica para si e para o resto desimportante, tentando ser feliz com verdades de pluma que se desfazem ao vento e esperamos o reconhecimento disso. Forjamos a farsa de ser talento, de ser essa superfície rasa que se mostram nas calçadas, debaixo desses casacões de inverno, o guarda-chuva compõe o visual. Fato concreto, verdade, ilusão, onde estão? Estão num só mesmo objeto, estão numa só fruta, na semente do que ainda seremos, nenhum dos dois existe,mundo, cadê você ? Mundo, cadê eu? Roda, roda meu coração por desentender a vida. Roda em busca de algo que ainda está por se descobrir.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Está tão denso que sequer ousamos, não agimos.
Não desperdice seu jovem coração. Aquela lua dourada e gigante sabe mais que todos nós; o silêncio é tão mais sonoro que as velhas ladainhas, os abraços são preciosidade, confissões são lindas. O mistério é melhor assim, não quero saber mais. Todas as histórias que imaginei, foram tantas; agora, o futuro, o passado e o presente estão aqui, e toda as inúmeras possibilidades de destino são palpáveis. Pode ser que os músicos errem a música no início, mas o maestro vai nos ensinar a sermos mais humanos e atingiremos a perfeição com a passagem dos compassos, o instrumento não desafinará mais, a beleza existirá em cada gente, em cada paisagem; nas sutilezas.
-Rá. Não entendo como ela pôde ficar tanto tempo apaixonada por você, disse a garota, abrindo um leve sorriso.
-Pois bem, eu e ela somos muitos parecidos. E me amando, ela pôde se amar. Agora que nos separamos, como ela pode amar sem um intermediário? sem um impulso? Isso seria egocentrismo demais na opinião dela. Pois para ela, o correto é amarmos primeiro o mundo inteiro e depois a nós mesmos, amor este concedido por mera misericórdia. Ela não entende que o processo é inverso. E depois de tantos contratempos, o fim estava próximo sem sabermos, no triunfo do sentimento choveu confete negro e quase ninguém acreditou. A estupidez predominou. A partir daí, me odiando, ela também passou a se odiar; o espelho refletido expôs todos os limites a que estava submetida, todos os obscuros lados, toda a dependência de precisar amar alguém para poder se amar, para poder seguir. A vaidade dela foi ferida demais. E ela vai buscar reconfortos para si, vai ficar batendo a cabeça por causa de lembranças bonitas, irá ficar ouvindo as mesmas músicas do passado, irá teimar, irá chorar além do necessário para depois, quando voltar a ser plena, entender que simplesmente não era para ser. No seu mundo, só as fortes emoções imperam e ela ainda não se acostumou com a leveza da nova fase de sua vida. As pequenas coisas tornam-se tão catastroficamente dramáticas, tão terrivelmente sofridas e as grandes, bom, elas permanecem tal como são. Portanto, não existe espaço para a doce calmaria. Existem ,entretanto, momentos em que vem o sentimento de esperança, mas sentir esperança é esperar e esperar não é agir. E não agir é permancer estagnado, preso a idéias que lhe são inalcançáveis. Concluo que com esperança não se alcança a felicidade. Felicidade é o aqui e agora. É amar o que vivencia, o que tem, o que pode realizar....Talvez algum dia....consigamos resolver.... com aquele abraço do perdão... aquela já tardia despedida... porém, talvez não também....está tão denso que sequer ousamos, simplesmente não agimos...