sábado, 27 de fevereiro de 2010

Fernando Pessoa - Ortônimo

Acabei de ler o livro com todos os poemas do Ortônimo do Fernando Pessoa no T7, voltando da UFRGS. Demorei +- 1 ano pra ler beeeeem na manha e, no final das contas, é ótimo. Eu tenho aqui em casa toda a coleção da L&PM Pocket e fico feliz que haja alguém pra publicá-lo assim, de levar no bolso como eu fiz ^^. E, o mais importante, por 10 reais.


Bom, Fernando é introspectivo. Usa a Imaginação. Se você não estiver a fim de reler pelo menos três vezes cada poema, entender palavra por palavra e realmente olhar para dentro de si, vá ler Veríssimo ou Carpinejar! O negócio é punk, precisa de muita calma e, se preciso, ficar cinco minutos numa página. Não é pra todas as horas nem pra todos.

Eu gosto quando ele fala do tédio, da tristeza, do sonho, da incapacidade de viver uma vida plena, das impressões. Masoquismo? Não. É que o jeito que ele trata destes sentimentos à primeira vista terríveis é com sensibilidade e empatia, não evitando-os, mas consumindo-os. Faz deles a sua própria vida, e acaba por transformá-los em progresso.

Agora, quando o portuguesinho começa a viajar com mitologia, com esoteria, com História, com as impressões e com o inconsistente e o irreal, é um porre. Tem poemas que não concluem, tem alguns que não se entende nada, tem outros que não querem dizer nada, e ainda alguns que são forçação de barra. Poxa, se eu quero Portugal e algo ao estilo de Lusíadas eu vou ler Mensagem, o livrinho amarelo da coleção (Que afinal é interessante também, mas punk, punk...).

No aspecto técnico, ele é muito versátil. Há versos imensos em Hora Absurda...
(...)
No meu céu interior nunca houve uma única estrela...
Hoje o céu é pesado como a ideia de nunca chegar a um porto...
(...)

...e curtíssimos:

Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Porquê
Esperar?
-Tudo é
Sonhar.

Autopsicografia e Isto, além de muitos outros, tratam do fazer-póetico, assunto que considero importantíssimo para quem está entrando neste mundo.

Ou seja: Fernando Pessoa me entende. É super-nítida a diferença entre os poemas sinceros e intencionais dos "só de bonitinho". Me identifico com ele como com ninguém em alguns aspectos. Mas temos que dar uma folga: Não foi ele que escolheu quais poemas publicar: muitos ele deveria achar horríveis (Tanto que metade dos poemas não tem nome). E também que sua vida fora muito atribulada (Perdeu o pai aos 5 anos, nunca teve um lar, diz-se que era homossexual enrustido, teve um casamento mal-sucedido...). Portanto, se dedicava aos mapas astrais, às organizações secretas, à História e ao mundo da literatura (E, portanto, ausentando-se da vida social), se tornando, de fato, um dos maiores poetas de sempre.