segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Desejo


Ainda me lembro do teu ultimo olhar
posso sentir os teus olhos fitando
Os meus movimentos, me admirando
quando nem eu mesma conseguia admirar...

Ainda me lembro do teu ultimo toque
Tuas mãos deslizavam no meu corpo ardente
O fervor daquela noite, chama ascendente
De um amor confuso e cheio de retoque

Ainda me lembro das tuas palavras
Dizendo que me queria naquela noite
E que o céu e o inferno não eram tão longe quanto nossas mágoas

Ainda me lembro quando vimos a senoite
surgir como bala no meio de nossos abraços em névoas
Tão delicados, tão profundos e tão rápidos como uma pernoite.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Penélope e Dear John, ou: a guria da sala de estar

Hoje terminei de ler aquele livro do Nicholas Sparks que virou filme, Dear John - Querido John em português.



A história é meiga e previsível, fala sobre amor e sobre guerra e sobre soldados e sobre o Iraque. Mas o ponto que eu queria compartilhar não é exatamente esse.
Eu queria falar sobre o Complexo de Penélope.

Dando uma olhada superficial no google, não achei nada produtivo com esse assunto. Mas já deve existir alguma teoria acadêmica e estudade e científica sobre o assunto - que eu não conheço. Por isso tudo que escrevo aqui é só o meu achismo.

Penélope é a esposa de Ulisses nas histórias "Ilíada" e "Odisséia". É mais ou menos assim: eles se amam. Aí Ulisses é chamado pra lutar na guerra. Aí ele vai e ele luta e tenta voltar pra casa. Só que no caminho de volta muitas obstáculos e coisas ruins vão acontecendo. E a guerra foi demorada. Então Ulisses demora muito pra voltar. Enquanto isso, Penélope fica esperando por ele. Aí todo mundo acha que Ulisses morreu e obrigam Penélope a casar com outro cara. Aí ela diz que só vai casar quando terminar de costurar uma colcha pro enxoval. Só que ela ama Ulisses e acredita que ele vai voltar e está decidida a esperar por ele o quanto for necessário. Por isso - e para não levantar suspeitas - ela passa o dia costurando a tal da colcha. E a noite descosturando. Então, a colcha nunca fica pronta e ela nunca pode casar, esperando eternamente por Ulisses.

Licenças poéticas a parte, essa é mais ou menos a ideia central da história de Penélope e Ulisses. E o que eu queria comentar é essa coisa que se repete. Nós, Penélopes, queimamos sutiãs, conquistamos espaço no mercado de trabalho, independência sexual e financeira, direitos iguais, etc, etc. E, de algum jeito obscuro e patético, volta e meia nos pegamos sentadas no sofá da sala de estar descosturando colchas e esperando Ulisses voltar pra casa.

Aí eu me lembro daquela música Kriptonita de um conjunto chamado Ludov que tem um verso que é mais ou menos assim:

Enquanto eu te quiser esteja em casa, esteja na sala de estar.

E lembro também daquele outro livro da Audrey Nieffeneger que também virou filme o The Time Traveler's Wife - horrivelmente distribuído no Brasil como Te amarei para sempre.
´
Então me pego pensando que, de algum jeito  e mesmo com todas as suas particularidades, todas essas quatro "´histórias", em suas essências, são a mesma. Nós damos voltas e mais voltas, escrevemos páginas e mais páginas e sempre voltamos pro mesmo buraco central: por que diabos esperamos?

Nieffeneger indaga, logo no primeiro parágrafo de seu livro, usando Clare, sua Penélope moderna "por que a ausência intensifica o amor?"
E eu repito aqui esse questionamento, com uma fé meio embaçada de que mais alguém entenda esse monte de pensamentos vomitados aqui e consiga desenvolver algumas sentenças. Por que a ausência intensifica o amor? Quer dizer, antes disso: a ausência realmente intensifica o amor? E se sim, o inverso seria também verdade: a constante companhia o enfraquece? a rotina, o amor calmo e sem atos, a ausência de uma jornada do herói faz tudo ficar chato e cansativo?

Será que encontrar um Ulisses - ou um João - que ao invés de partir decida ficar do nosso lado enrolando novelos de lã na sala, será que isso faz ele perder o encanto? E por quê? Por quê? Será que é nossa sina, mesmo depois de todos os sutiãs e todos os anticoncepcionais, continuar olhando pro céu no primeiro dia de lua cheia esperando ele voltar? [reticências]

terça-feira, 30 de novembro de 2010



Chet baker.



Radiohead.



Philip Glass.

  
Wilco.


Beirut.



Tudo isso é até muito bonito, mas eu gostaria mesmo é de ser implacável. É, isso.


                                                                            Ennio Morricone.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Auto-explicativo

(Escrevi o poema outubro de 2009, conheci a música há umas 2 semanas)


OUTUBRO

Vem, vem cá...

Não vira de costas não...

Vem marcar a minha vida, tão intencionalmente pacata.

Vem, mexe comigo

Não com o que és, mas com o que fazes.


Parada, com seu marca-texto na mão.

A folha branca na mesa,

O cabelo preso

Pronta para marcar a vida do próximo que surgir.

Nem triste, nem alegre: À postos


E assim eu quero ser:

Ser tinta e pintar as paredes

dos teus desejos com as cores que trago comigo

Te olhar e não ser teu vigia...

Quero dar significado ao significante,

Quero ser o teu ar...

Sem restrição de tempo ou lugar


Vai, me faz um poema, um bolo, um sorriso.

((É, faz um sorriso só pra mim)

Deixa tua marca, se doa um pouquinho...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

É interessante levitar assim

É interessante levitar assim em películas bonitas, suaves emoções, agradáveis expectativas. E escondo o que deixo para trás, pois não é algo aprazível de ser falado no momento, milady. O som do riacho, céu lilás, lençóis estendidos no varal, pisar na grama, eis os verdadeiros tesouros, minha dama! Todo o resto é resto, sem querer menosprezar sua refinada educação, sua eficaz visão racional do mundo, mas entendo que se a razão chega a ter alguma utilidade é tão somente a de ofuscar os mais profundos desejos latentes do coração. Portanto, enquanto fala sobre seus interesses, posicionamentos, não a conheço. Mas, quando, com a mão, puxa o cabelo pro outro lado do rosto, quando se enerva com minha silenciosa observação, quando reparo o quanto você olha suas unhas recém-feitas é que mais tenho contato com aquilo que você sequer algum dia conseguiu classificar: você mesma.

Respeitável mulher, pode continuar a falar sim, é bom encher esse mundo de sons. Não, não estou sendo irônica. Sim, ouvirei-a, sim, direi o que acho, porque do pouco que sei é que muitas vezes buscamos ajuda quando não conseguimos nos dar a solução que já sabemos, conhecemos. Precisamos que o outro fale, que o outro nos entenda. Se isso é fruto de baixa auto-estima ou é um subterfúgio para deslocar responsabilidade para um terceiro, não sei. Minha restrita abrangência do mundo me impede de explicar coisas que já vi acontecerem meia-dúzias de vezes. Mas não tenho pressa, não, querida, sinto-me feliz onde cá estou. Sim, aqui foi o único lugar onde sequer estive. Apenas em sonhos minha mente transita em espaços que não existem nessa realidade dimensional e preenchem minha fominha por fantasia. Ah, não está gostando para que caminho segue essa conversa? Ok,falemos do que vi ontem enquanto bebia meu café sentada no banco da varanda: Vi Sra. Hostian ruburescida descendo do carro do Dr. Peat e, antes que a julgue, lembre do difícil casamento que ela aguentou por 28 anos com Olavic.

CONTINUA.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cinemática

Estou farta do lirismo comedido, do lirismo bem comportado, do lirismo funcionário. Estou farta dos roteiros encaixotados, das idéias amarradas, das letras em courrier new 12. Estou farta da fôrma, da forma, de idéia sem acento, do ambiente andes dos personagens. Estou farta do herói e sua jornada, dos pontos de virada, dos atos e entreatos e seus truques baratos. Estou farta da indústria, da história sempre igual, do enredo sempre igual, da fotografia, do som, da imagem, do filme, da emoção sempre igual. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Estou farta dos próprios vocábulos, de todos os diálogos. Estou farta da falta de sorrisos, da falta de lágrimas, da falta de silêncios e seus ruídos. Quero ouvir os ruídos! Quero ver além da tela branca, da projeção, da luz, película, negativo. Quero ver além, quero um significado, uma mudança. Quero sentir uma emoção nova. Quero ser perturbada, não agüento mais essa passividade, esse olhar de espectador distante sentado na poltrona. Sentado na poltrona do cinema, sentado na poltrona do carro, o filme ali na frente, a vida ali na frente, o guri cantando brasil,mostratuacara e pedindo um trocado na janela do carro. Quero que assassinem a mocinha no meio do filme, quero espelhos paralelos e escadas infinitas, quero um cinema francês em chamas, quero antes o lirismo dos loucos, o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados, o lirismo dos clowns de Shakespeare. Quero um cinema de loucos, um cinema de bêbados, um cinema sem planilhas, um cinema que seja vida e uma vida que seja um pouquinho mais cinema. Quero me emocionar, quero uma reação de verdade quando um velho é pisoteado no meio da rua, quero sentir sentir sentir de verdade em meio a esse turbilhão de informações e de cores e de luzes e de sons que enchem o espaço mas não preenchem nem dizem nada, absolutamente nada! Quero me surpreender, quero ver as laranjas se transformarem em esferas de ouro e quero ver o guri da sinaleira não precisando cantar cazuza. Quero um cinema que se importe, que não use tanta folha pra fazer seus projetos. Quero um cinema que acredite que possa surpreender e que acredite que possa mudar esta merda toda. Quero acreditar que posso mudar esta merda toda. - Não quero mais saber do cinema que não é criação. Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

About Meaning




Vivemos tão compelidos a ter opiniões acerca de tudo que nos rodeia (e de o que nos é distante também), que deixamos de perceber o valor do ócio, do 'não fazer nada', da simples contemplação desinteressada.

Por que temos que encontrar sentido em todos estímulos a que somos submetidos? Porque é nossa obrigação classificar e catalogar o mundo que nos cerca, porque não podemos optar pelo "não-saber"?

Eu acredito num mundo mais despojado e acredito que a poluição visual e todo esse ruído das avenidas da vida fazem um mal tremendo. Eu acredito numa realidade diferente em que nos preocupamos mais com o que nos diz respeito e com o que nos concerne; em que encontramos e não criamos o sentido das coisas.

Na 8ª série, minha turma fez um quadro para a disciplina de Português. Na época, achei idiota fazer isso numa aula de Português, mas hoje entendo melhor toda a relação da linguagem e a expressão artística. Enclausuramento trata exatamente disso, do jeito que o mundo traça nosso horizonte e emoldura nosso pensar. O meio do quadro, já que pintei por último, foi alvo de muitas sugestões, e por isso foi bem pensado. É nessa mancha feia que tá a questão. Nesse nada que tá tudo.

"O que sobra das pessoas que só andam sobre os trilhos?"

A mensagem do vídeo - desprezando qualquer analogia à selvageria a priori de animais fofinhos - é exatamente essa, de que algumas coisas simplesmente não tem mensagem, não tem sentido, não tem porquê de ser.

Fica aqui meu Mestre, que me fez pensar sobre tudo isso, Alberto Caeiro com o poema XXXIX do livro "O Guardador de Rebanhos" (1911-1912).

O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pessoal, estou aqui divulgando o meu blog, sem grandes pretensões, só busco rabiscar um pouco por lá nas horas vagas, dêem uma olhada nele, prometo tentar mantê-lo atualizado! ;)
http://oavessodoavessodoavesso.blogspot.com/

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mais Uma Nova Padaria

Hoje, eu conheci outra padaria. Hoje, eu acordei ao meio-dia. Fiz um favor pra minha mãe nesse dia cinza, frio e úmido. Nesse dia frio, eu comi pães de queijo em uma padaria que não conhecia: fornada quente, tortinha de limão geladinha. Hoje, foi minha última aula de música no horário que vinha frequentando neste ano.


Frontino Vieira

Hoje, vou conhecer um novo restaurante e experimentar um peixe quase que novo pra mim. Fiz a barba pra conseguir sair de casa sem vergonha. Hoje, mandei revelar as fotos de uma viagem e me senti bem mais vivo depois de um dia inteiro dentro de casa.

"Nós somos o que fazemos. O que não se faz, não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos, apenas duramos. " - Pe. Antônio Vieira

"Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos: ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo. Julgas que navegou muito aquele que, tendo se afastado do porto, foi pego por violenta tempestade e, errante, ficou à mercê dos ventos, ao capricho dos furacões, sem, no entanto, sair do lugar? Ele não navegou muito, apenas foi muito acossado." - Sêneca In Sobre a brevidade da vida, L&PM Pocket - 2010.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Adeus

Adeus. Foi tudo que poderíamos ter dito,
naquela hora fatídica do destino, ela parou
ele, por sua vez, nada se espantou
pois a profecia cumpriu-se, o real tornou-se mito.

Adeus. Foi tudo que poderíamos ter sentido,
o amor, cinzas de uma grande queimada
o carinho, cicatrizes de quem fora amada
a tristeza, enchente que inundou meu sentido

Adeus. Como poderíamos?
Nada mais restou, nem ódio já existe...
Defuntos sem alma, nada mais sentiríamos...

Adeus, este é o fim que insiste...
Em dar-nos adeus para o amor que nutríamos
como uma bela colheita que teu ser, a disseminar persiste.
 
Adeus.
Mellanie Dutra

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Passar a tarde sentada em uma roda rindo.  E quero isso muitas, muitas vezes mais, meus amigos.

"O presente é bastante para mim. Dia a dia. Hoje!"

terça-feira, 6 de julho de 2010

Greyson Chance


Quando eu olho essa foto, algo dentro de mim acontece. Porque Greyson Chance é um menino de 13 anos que virou hit do youtube com sua apresentação na Mostra de Talentos do seu colégio cantando e tocando Lady Gaga's Paparazzi no piano. O que vejo é um menino que pega seu primeiro avião para comparecer a uma entrevista, é um menino que viveu até agora uma vida sincera, que não é um produto como os Jonas Brother's nem canta como uma mulherzinha que nem o Justin Bieber. Greyson Chance é diferente. É diferente porque é normal. Ele tem um time de futebol, começou a tocar piano com a mesma idade que eu, se impressiona com a fumaça que sai do asfalto nos dias quentes, faz seus vídeos de pés descalços e não em cima do palco artificial da fama, cada vez mais construída e cada vez menos sincera.

Trazendo isso pra mais perto de nós, não é preciso ser um astro-pop para não viver SUA vida. Você não precisa viajar o mundo todo e namorar caras 10 anos mais velhos para "pular" sua adolescência. Quantas vezes vemos pessoas inibindo seus sentimentos, vivendo a vida que os outros querem que vivam? Quantas vezes nós mesmos moldamos nossos sonhos conforme a realidade

Deixe sua marca nesse mundo, faça aquilo que você nasceu pra fazer, "seja você mesmo sempre!" Não espere pela aprovação dos outros quando você tem certeza de que você está certo. Eu sei que não dá pra deixar tudo rolar solto, que a cultura é inibidora por definição e que nunca seremos felizes porque nossos sentimentos mais instintivos serão sempre negados pela sociedade como diz meu amigo Freud, mas isso é ir longe demais. Tudo que proponho é escrever um cartão de dia dos namorados como você quiser, SE você quiser e, lastbutnotleast, para quem quiser. Auto-ajuda demais pro seu gosto? Pode ser, mas pode ser também que esses autores tenham um pouco de razão, afinal.

Greyson Chance consegue tocar fundo porque nao tem vergonha da sua voz. Greyson Chance fascina tanto porque tem 13-fucking-years. Tem até um comentário em um de seus vídeos que diz: "u r 13....stop singing of broken hearts lol ". (Broken Heatrs = Uma das músicas que ele compôs). É aí que entra a questão da arte separada do artista, que talvez toda a letra (Nem sei do que fala direito) seja sobre o medo que ele tem de levar um pé na bunda ou sobre uma decepção amorosa pela qual seu irmão tenha passado. Uma canção não fala só das coisas pelas quais passamos, dã.


Esse é seu canal no youtube, enjoy!: http://www.youtube.com/user/greyson97#p/u

E, caso faça muito tempo que tu não tenha ido ao Cord, segue a música original no trailer. (Vale a pena conferir todos os trailers dela): http://www.youtube.com/watch?v=d2smz_1L2_0

terça-feira, 15 de junho de 2010

DEVANEIOS
Eu sou em mim mesma todas as possibilidades de ser errante não concretizadas. Todas as virtudes e todos os vícios, toda o rancor, toda a culpa fruto do peso dos ascendentes, todo o mistério profundo do inconsciente com o consciente e aquele papo por demais de interessante, sou muita dor que nem sei de onde vem. Talvez, é da memória residual da vida constante, do passado prestes a ser desvelado, da sabedoria cosmo-universo, do entendimento espírito. Estou tentando chegar até a mais alta poeira estelar. Estou tentando me perdoar. Estou tentando esquecer. Coisas pequenas me afligem tanto, mas com as coisas grandes já me acostumei. O nojo sobrevém o adorar, pois aquilo que dizem sobre amor e ódio serem tão próximos é verdade, e o óleo e a água se misturam numa taça de vidro, fazendo confuso seu gosto; ah, não, o caminho dos ladrilhos amarelos virou um círculo e nada tem mais nada a ver.

Eu sou em mim mesma o que nem sei, eu sou em mim o poder de surpreender, da previsibilidade doída, de chorar tanto e tão pouco, de me consumir pelo menor erro, de ser impulsiva e orgulhosa, de amar o que dói, de não desistir nunca, de ser mais densa que o céu.

Construindo crenças sobre um castelo torto, é cansativo às vezes pensar no passado, é tão mais fácil negar tudo, é tão mais fácil sorver aquele veneno alheio que contamina e isso não é bom. Porém, não consigo seguir o caminho mais desidioso, não é concebível ser fácil.

Lençóis azuis como o mar, confetes de prata, desencontros, tantas batalhas mal-sucedidas e continua a doer. Continua a doer sobre tudo aquilo que sonhamos, pois disso sou só, sem você.

Devaneio total, gostar do que é ruim para si não lhe foi cabido nessa vida, amada. Não tome para si a batalha da sua mãe, não precisa escolher alguém tão parecido com seu pai, não precisa de nada disso. Deus lhe deu asas para ir muito mais longe, nossos caminhos são distintos e convergem para um mesmo fim; nesse séculos XXI grandes resoluções nos aguaram e, Flávia, você terá muito trabalho a fazer, ser-lhe-á cabido o exercício da compaixão e, para isso, terá que lavar esse pobre e tolo coração. Faça da sua inconstância um balanço com ritmo próprio, faça das dúvidas o poder de sempre observar as coisas sob todos os ângulos possíveis e, quando crer que descobriu uma verdade, certifique-se disso, pois pode não ser pros outros, pode não ser para todas as situações. Faça o melhor que puder, faça mesmo. Seja boa, mesmo que digam que é demais, pois nunca é demais o que falta nesse mundo. Flávia, descansa em paz. Flávia, você tem o mundo lhe esperando para ser conquistado, a beleza está aí, quantas bênçãos vêm em balões coloridos, em sons metálicos, em sons de sino, tão divinos numa manhã de domingo.

Você veio para ser grande e insiste em ser pequena por causa da culpa irracional, impossível de ser explicada, culpa que você carrega por milênios de horas de dor, milênios de horas caducando sobre coisas que já caducaram e por isso não devem ser mais caducadas, as coisas que mais nos marcam são as interrompidas e por isso os homens choram, os fatos que nos fazem o que somos são aqueles dos quais resolvemos esquecer ou que se esconderam num bueiro e sequer tornaram a acontecer; e nos moldamos, assim incompletos, insatisfeitos de sei lá o quê. De poeira estelar, provavelmente!

Vendemos essa metafísica para si e para o resto desimportante, tentando ser feliz com verdades de pluma que se desfazem ao vento e esperamos o reconhecimento disso. Forjamos a farsa de ser talento, de ser essa superfície rasa que se mostram nas calçadas, debaixo desses casacões de inverno, o guarda-chuva compõe o visual. Fato concreto, verdade, ilusão, onde estão? Estão num só mesmo objeto, estão numa só fruta, na semente do que ainda seremos, nenhum dos dois existe,mundo, cadê você ? Mundo, cadê eu? Roda, roda meu coração por desentender a vida. Roda em busca de algo que ainda está por se descobrir.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Está tão denso que sequer ousamos, não agimos.
Não desperdice seu jovem coração. Aquela lua dourada e gigante sabe mais que todos nós; o silêncio é tão mais sonoro que as velhas ladainhas, os abraços são preciosidade, confissões são lindas. O mistério é melhor assim, não quero saber mais. Todas as histórias que imaginei, foram tantas; agora, o futuro, o passado e o presente estão aqui, e toda as inúmeras possibilidades de destino são palpáveis. Pode ser que os músicos errem a música no início, mas o maestro vai nos ensinar a sermos mais humanos e atingiremos a perfeição com a passagem dos compassos, o instrumento não desafinará mais, a beleza existirá em cada gente, em cada paisagem; nas sutilezas.
-Rá. Não entendo como ela pôde ficar tanto tempo apaixonada por você, disse a garota, abrindo um leve sorriso.
-Pois bem, eu e ela somos muitos parecidos. E me amando, ela pôde se amar. Agora que nos separamos, como ela pode amar sem um intermediário? sem um impulso? Isso seria egocentrismo demais na opinião dela. Pois para ela, o correto é amarmos primeiro o mundo inteiro e depois a nós mesmos, amor este concedido por mera misericórdia. Ela não entende que o processo é inverso. E depois de tantos contratempos, o fim estava próximo sem sabermos, no triunfo do sentimento choveu confete negro e quase ninguém acreditou. A estupidez predominou. A partir daí, me odiando, ela também passou a se odiar; o espelho refletido expôs todos os limites a que estava submetida, todos os obscuros lados, toda a dependência de precisar amar alguém para poder se amar, para poder seguir. A vaidade dela foi ferida demais. E ela vai buscar reconfortos para si, vai ficar batendo a cabeça por causa de lembranças bonitas, irá ficar ouvindo as mesmas músicas do passado, irá teimar, irá chorar além do necessário para depois, quando voltar a ser plena, entender que simplesmente não era para ser. No seu mundo, só as fortes emoções imperam e ela ainda não se acostumou com a leveza da nova fase de sua vida. As pequenas coisas tornam-se tão catastroficamente dramáticas, tão terrivelmente sofridas e as grandes, bom, elas permanecem tal como são. Portanto, não existe espaço para a doce calmaria. Existem ,entretanto, momentos em que vem o sentimento de esperança, mas sentir esperança é esperar e esperar não é agir. E não agir é permancer estagnado, preso a idéias que lhe são inalcançáveis. Concluo que com esperança não se alcança a felicidade. Felicidade é o aqui e agora. É amar o que vivencia, o que tem, o que pode realizar....Talvez algum dia....consigamos resolver.... com aquele abraço do perdão... aquela já tardia despedida... porém, talvez não também....está tão denso que sequer ousamos, simplesmente não agimos...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

"Estou morrendo de saudade, Rio teu mar, praias sem fim, Rio você foi feito para mim"


Saudades das caras de todas as cores, dos passos apressados, da euforia compartilhada pela multidão ao atravessar a Avenida Presidente Vargas. De sambar até o sol raiar, dos doces amores. Do sabor tropical do açaí, da confusão, de suar com o calor de 40 graus, de cantar cantigas no bondinho, das ruas antigas,da brasilidade, do meu passado, da singular poesia dos contrastes! A miscigenação, o povão, a diversidade, as maravilhas, as maratonas do Odeon, a caipirinha na Casa da Matriz, as tardes na casa de amigas, ler João Cabral de Mello Neto no metrô ouvindo para casa, ouvir Betânia! Ah, a pátria sentida, minha cidade maravilhosa, aquela parte de mim que jamais deixarei de ser e que levarei para meu caminho!Ah, aquela espontaneidade, aquela democracia de ser só mais um sobrevivente no meio da galera. Os vendedores ambulantes, o constante estresse contrastando com a paz do mar, a vida cosmopolita e os opostos invadindo nossas veias.
Tenho saudades infindas de ouvir meu pai treinando o violão e, desde pequena, a escala de dó continua a ressoar no meu ouvido como uma eterna prece.
Rio de Janeiro é pura musicalidade, é pura vida! E as cores continuam a saltar aos meu olhos! Saudades das grandes lições do maestro soberano Tom Jobim, bossa nova me fez ser mais gente. Saudades de não conhecer sequer metade da minha cidade. Saudades de odiar aquele saxofonista desafinado no Largo da Carioca, saudades de descobrir cantos, das viagens a Araruama e de ler Morro dos Ventos Uivantes na rede da Ju e de justo na semana em que fui a sua casa de praia ter chovido sem parar- é muita sorte mesmo. Saudades do pavê da dona Maira, saudades da lasanha da avó da Gabi! Saudades dos amigos professores que fiz e de chorar pelas partidas deles, saudades da quinta,sexta e sétima série, das guerras de giz, de ficar gravando videos de música numa fita de VHS e de "tiny dancer" ter sido minha música durante todos os meus 12 anos. Saudades de tocar escondido o piano da Natália! Saudades, sim, de ter orgulho ao entrar na Escola de Música Villa-Lobos. Saudades de ir ao Theatro Municipal com minha amada mãe, de ouvir Irene ler Tabacaria para mim, saudades dos esplêndidos capuccinos com Lívia, de ver péssimos filmes, de fazer cheesecake e de dançar, dançar samba, jazz, pop, tudo! Saudades de não saber nada, saudades de todo o caminho que me fez chegar até aqui! Saudade das minhas primeiras noites com identidade falsa na companhia de Roberta! Saudades das risadas sem fim com as meninas do CEL, das mais maravilhosas conversas no banheiro! Das peças de teatro, de interpretar Fernão de Magalhães e de poder dizer:" Terra à vista!"
Ah, saudades de perceber como fui feliz apesar dos penares.Saudades de sair correndo de pés descalços pelo colégio quando tinha 7 anos e de levar bronca da freira, dessa época em que meu cabelo era mais brilhante; vontade de ser criança e de ficar sentada na capela. Os choros das professoras quando fui embora, os bons conselhos que ouvi, as bênçãos que recebi. Saudades de todo o carinho que recebi e dei, saudades de ser grande quando pequena. Saudades de pisar o pé na areia, de beber água de côco! E também água com gás minalba! Saudades da turma do Helvécio e de ouvir por inúmeras tardes bagaceirices de uma turma repleta de garotos. Saudades dos almoços do meu pai, de acordar com o álbum família jobim, de rodopiar com a propaganda da Varig tocando Rhapsody in Blue, saudades de cozinhar petit gateau também. Grandes saudades de desenhar. Saudades da Cultura Inglesa na Vila da Penha! Galerinha do bem! Saudades da Rádio Cidade!
Saudades de quando comprei meu primeiro allstar, saudades dos exemplos que tive e que já passaram por minha vida, saudades do quanto cada lugar tinha tanto significado e continua tendo,afinal, só que de uma maneira diferente. Saudades das descobertas, do gosto do novo, das possibilidades que pareciam tão vívidas ali na minha frente. Saudades de buscar minha mãe no trabalho com meu pai, saudades de abraçar a árvore do Tom, saudades do meu abençoado caminho das palmeiras, saudades, simplesmente.

domingo, 18 de abril de 2010

Ser-Sol e Ser-Lua

Neste mundo louco de dias e noites mais compridas que as anteriores, de tempo que passa e parece que não passou, somos guiados por astros. É, Astros. Há os que se destacam e a eles chamamos Sol e Lua. Então, qual Astro você é ou - o mais importante - qual você pretende ser?

O Ser-Sol é daquele tipo que brilha. Brilha mas faz todos brilharem também. Quando aparece, é sempre Sol, e te faz tão mais tu... Já a Lua é daquelas temperamentais: quando aparece, rouba a cena. Talvez nem seja seu desejo chamar tanta atenção, mas com tanta beleza é quase impossível ser discreta. Tão admirada, tão exaltada, mas tão teimosa. Pode desaparecer por uma semana inteira - e desapareçe mesmo - mas quando vem... Tantas vezes dizendo que tá se acostumando, que recém chegou; ou então que vai ter de ir, tem de fazer as malas, está de partida.


Se, no entanto, você fôr sortudo o suficiente para pegá-la em sua noite de sorte, é uma arrasa corações. Juras de amor por ela são feitas, sonhos e fantasias por ela são inspirados... Tão serena, tão bela, palida e adorável na imensidão da noite....

O Sol, por sua vez, nem sempre recebe o crédito pelo que faz. Ainda mais, nem todos gostam sempre que ele chegue. O problema com o tal Sol é que - nem todos sabem - ele tá em expansão. Sim, isso mesmo, numa expansão sutil que quase ninguém percebe. A cada dia ele fica maior e maior e, não espalha: chega um dia que todo império cai. Com o Sol também é assim: ambicioso, se pode ser dito. Quando ele se fôr, também, ninguém sabe o que vai fazer, mas isso ainda vai demorar pra acontecer.

Sutil assim só a Lua, que se afasta gradualmente de nós. Eu sei que tem dias que parece que ela está a um palmo, mas é só ilusão: é da sua natureza se distanciar. Talvez daqui a um bom tempo isso se note, porque por enquanto ela está aí, neste jogo de esconde-esconde que só a faz, cada vez, mais

O Sol é Pai, diz "vai!". Nos motiva a brincar na rua, a usar óculos-escuros e a se molhar. Já a Mãe Lua se preocupa com a gente: nos lembra que é hora de ir pra casa, dizendo "volta!". Isto quando não rouba a cena só pra ela. É sempre assim. É que todos gostam dela, até quem brilha ao seu lado: As estrelas.

Vincent Van Gogh

Bom mesmo é Ser-Estrela. Ser-Estrela é não sair nas fotos. Ser-Estrela é trabalhar em equipe. Ser-Estrela é não mudar, ser você mesmo sem ofuscar ninguém, sem roubar a cena. É inspirar e fazer sua parte. É ser bem-vindo sempre, é ser Irmão.

domingo, 11 de abril de 2010

"É amor à primeira vista, não o Papai Noel!"

Queria saber que música tu tá ouvindo. Queria saber se tu só usa All-Star, se este bordô da tua camiseta básica te agrada tanto quanto a mim. Queria cheirar tua bolsa e saber se é couro de verdade. Queria saber se nunca lês no ônibus. Queria saber o que tu lê; se prefere Tolkien a Lewis, poesia a prosa, forma a conteúdo.

Queria te perguntar todas essa coisas tomando um café, e queria saber quanto de açúcar tu poria. Gostaria de ir tomar sorvete e saber se pediria morango ou chocolate. Queria ir numa vídeo-locadora e ver em que sessão tu iria por primeiro. Gostaria de te levar no meu restaurante favorito, de te levar no meu canto favorito na cidade, de te mostrar minha posição favorita de dormir...

Queria saber o nome do teu dentista, tua marca favorita de pasta de dentes, teu hambúrguer favorito do McDonald’s. Queria sentir fome contigo, pra descobrir se é dor de cabeça ou mal-humor que tu sentes.


"O almoço dos barqueiros", Renoir
(Clique e amplie)



Quero te deixar confortável nos momentos em que tu chorar e te sentir fraco. Quero abotoar o último botão da tua camisa nas noites especiais. Quero usar teu shampoo pra sentir teu cheiro o dia todo.

Gostaria de abrir essa tua bolsa e ver o que tem dentro. Gostaria de abrir essas tuas calças e ver o que tem dentro.

Quero agarrar na tua mão quando o ônibus der uma freada brusca. Quero acordar do teu lado e ver se tua franja continua desse jeito. Queria te dizer pra não tirar essa espinha do teu nariz. Queria te perguntar por que passa a mão no rosto com esse ar de cansado.

Queria que minha parada não fosse essa, e sim a mesma que a tua.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Fernando Pessoa - Ortônimo

Acabei de ler o livro com todos os poemas do Ortônimo do Fernando Pessoa no T7, voltando da UFRGS. Demorei +- 1 ano pra ler beeeeem na manha e, no final das contas, é ótimo. Eu tenho aqui em casa toda a coleção da L&PM Pocket e fico feliz que haja alguém pra publicá-lo assim, de levar no bolso como eu fiz ^^. E, o mais importante, por 10 reais.


Bom, Fernando é introspectivo. Usa a Imaginação. Se você não estiver a fim de reler pelo menos três vezes cada poema, entender palavra por palavra e realmente olhar para dentro de si, vá ler Veríssimo ou Carpinejar! O negócio é punk, precisa de muita calma e, se preciso, ficar cinco minutos numa página. Não é pra todas as horas nem pra todos.

Eu gosto quando ele fala do tédio, da tristeza, do sonho, da incapacidade de viver uma vida plena, das impressões. Masoquismo? Não. É que o jeito que ele trata destes sentimentos à primeira vista terríveis é com sensibilidade e empatia, não evitando-os, mas consumindo-os. Faz deles a sua própria vida, e acaba por transformá-los em progresso.

Agora, quando o portuguesinho começa a viajar com mitologia, com esoteria, com História, com as impressões e com o inconsistente e o irreal, é um porre. Tem poemas que não concluem, tem alguns que não se entende nada, tem outros que não querem dizer nada, e ainda alguns que são forçação de barra. Poxa, se eu quero Portugal e algo ao estilo de Lusíadas eu vou ler Mensagem, o livrinho amarelo da coleção (Que afinal é interessante também, mas punk, punk...).

No aspecto técnico, ele é muito versátil. Há versos imensos em Hora Absurda...
(...)
No meu céu interior nunca houve uma única estrela...
Hoje o céu é pesado como a ideia de nunca chegar a um porto...
(...)

...e curtíssimos:

Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Porquê
Esperar?
-Tudo é
Sonhar.

Autopsicografia e Isto, além de muitos outros, tratam do fazer-póetico, assunto que considero importantíssimo para quem está entrando neste mundo.

Ou seja: Fernando Pessoa me entende. É super-nítida a diferença entre os poemas sinceros e intencionais dos "só de bonitinho". Me identifico com ele como com ninguém em alguns aspectos. Mas temos que dar uma folga: Não foi ele que escolheu quais poemas publicar: muitos ele deveria achar horríveis (Tanto que metade dos poemas não tem nome). E também que sua vida fora muito atribulada (Perdeu o pai aos 5 anos, nunca teve um lar, diz-se que era homossexual enrustido, teve um casamento mal-sucedido...). Portanto, se dedicava aos mapas astrais, às organizações secretas, à História e ao mundo da literatura (E, portanto, ausentando-se da vida social), se tornando, de fato, um dos maiores poetas de sempre.