segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Desejo


Ainda me lembro do teu ultimo olhar
posso sentir os teus olhos fitando
Os meus movimentos, me admirando
quando nem eu mesma conseguia admirar...

Ainda me lembro do teu ultimo toque
Tuas mãos deslizavam no meu corpo ardente
O fervor daquela noite, chama ascendente
De um amor confuso e cheio de retoque

Ainda me lembro das tuas palavras
Dizendo que me queria naquela noite
E que o céu e o inferno não eram tão longe quanto nossas mágoas

Ainda me lembro quando vimos a senoite
surgir como bala no meio de nossos abraços em névoas
Tão delicados, tão profundos e tão rápidos como uma pernoite.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Penélope e Dear John, ou: a guria da sala de estar

Hoje terminei de ler aquele livro do Nicholas Sparks que virou filme, Dear John - Querido John em português.



A história é meiga e previsível, fala sobre amor e sobre guerra e sobre soldados e sobre o Iraque. Mas o ponto que eu queria compartilhar não é exatamente esse.
Eu queria falar sobre o Complexo de Penélope.

Dando uma olhada superficial no google, não achei nada produtivo com esse assunto. Mas já deve existir alguma teoria acadêmica e estudade e científica sobre o assunto - que eu não conheço. Por isso tudo que escrevo aqui é só o meu achismo.

Penélope é a esposa de Ulisses nas histórias "Ilíada" e "Odisséia". É mais ou menos assim: eles se amam. Aí Ulisses é chamado pra lutar na guerra. Aí ele vai e ele luta e tenta voltar pra casa. Só que no caminho de volta muitas obstáculos e coisas ruins vão acontecendo. E a guerra foi demorada. Então Ulisses demora muito pra voltar. Enquanto isso, Penélope fica esperando por ele. Aí todo mundo acha que Ulisses morreu e obrigam Penélope a casar com outro cara. Aí ela diz que só vai casar quando terminar de costurar uma colcha pro enxoval. Só que ela ama Ulisses e acredita que ele vai voltar e está decidida a esperar por ele o quanto for necessário. Por isso - e para não levantar suspeitas - ela passa o dia costurando a tal da colcha. E a noite descosturando. Então, a colcha nunca fica pronta e ela nunca pode casar, esperando eternamente por Ulisses.

Licenças poéticas a parte, essa é mais ou menos a ideia central da história de Penélope e Ulisses. E o que eu queria comentar é essa coisa que se repete. Nós, Penélopes, queimamos sutiãs, conquistamos espaço no mercado de trabalho, independência sexual e financeira, direitos iguais, etc, etc. E, de algum jeito obscuro e patético, volta e meia nos pegamos sentadas no sofá da sala de estar descosturando colchas e esperando Ulisses voltar pra casa.

Aí eu me lembro daquela música Kriptonita de um conjunto chamado Ludov que tem um verso que é mais ou menos assim:

Enquanto eu te quiser esteja em casa, esteja na sala de estar.

E lembro também daquele outro livro da Audrey Nieffeneger que também virou filme o The Time Traveler's Wife - horrivelmente distribuído no Brasil como Te amarei para sempre.
´
Então me pego pensando que, de algum jeito  e mesmo com todas as suas particularidades, todas essas quatro "´histórias", em suas essências, são a mesma. Nós damos voltas e mais voltas, escrevemos páginas e mais páginas e sempre voltamos pro mesmo buraco central: por que diabos esperamos?

Nieffeneger indaga, logo no primeiro parágrafo de seu livro, usando Clare, sua Penélope moderna "por que a ausência intensifica o amor?"
E eu repito aqui esse questionamento, com uma fé meio embaçada de que mais alguém entenda esse monte de pensamentos vomitados aqui e consiga desenvolver algumas sentenças. Por que a ausência intensifica o amor? Quer dizer, antes disso: a ausência realmente intensifica o amor? E se sim, o inverso seria também verdade: a constante companhia o enfraquece? a rotina, o amor calmo e sem atos, a ausência de uma jornada do herói faz tudo ficar chato e cansativo?

Será que encontrar um Ulisses - ou um João - que ao invés de partir decida ficar do nosso lado enrolando novelos de lã na sala, será que isso faz ele perder o encanto? E por quê? Por quê? Será que é nossa sina, mesmo depois de todos os sutiãs e todos os anticoncepcionais, continuar olhando pro céu no primeiro dia de lua cheia esperando ele voltar? [reticências]