quarta-feira, 20 de junho de 2012

Improvocar

Ele me faz gritar de raiva,
grunhir - mostrando os dentes,
ou gemer baixinho...
Me faz vociferar:
me PRO-voca.

E o outro me chama,
pela voz.
Vocaliza meu nome:
me IN-voca.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vale a pena?

Inapto. Assim que me consideraram no Banco de Sangue do Hospital Conceição hoje, porque há três dias estou com, como descrevi para a enfermeira que me entrevistou, "uma tosse com um pouco de catarro não amarelo no comecinho da manhã."

"É, pois é, não podemos correr riscos, temos que prezar pela saúde do receptor, volte depois de uma semana terminado todos os sintomas de resfriado, porque
você provavelmente está com uma infecção viral."

Mas o que me incomodou não foi exatamente terem dispensado meu sangue no momento. >>O problema foi<< que a entrevista se deu DEPOIS de 30 minutos de espera e depois de uma técnica de enfermagem ter espetado meu dedo para retirar uma amostra do meu sangue, medido a pressão e me pesado.

Saio puto da cara e a mesma técnica de enfermagem ainda me pegunta se está tudo bem. Respondo um indignado 'sim', e pedem que eu vá de elevador - que é o que pedem depois que tu doa sangue. Reprodução automática pra quê, minha gente?

Sério, não vai ser a uma hora e meia de procedimento super-burocratizado que vai me deixar de doar sangue voluntariamente - talvez só me faça doar com menos frequência já que é difícil achar tempo antes das 17h que é quando fecha o banco. Não é ter que mentir que não sou homossexual, embora ter de fazer isso não me faça bem. Agora, ser tratado dessa maneira, num total estado de pânico social facilmente observável nos tipos de pergunta que nos fazem nos formulários, pode me deixar puto. Algum conformado estúpido poderia dizer "Ah, mas o que tu esperava do SUS? Serviço feito de graça aqui no Brasil é assim mesmo." Oi!? Tu esperava o quê, que eu pagasse pra doar sangue (e ser bem atendido)!?


Se tem pessoal e equipamento, porque o descaso então? Porque ficar batendo papo no corredor e deixar os doadores esperando? Me incomodo, sim. Se não fosse eu, quem iria se indignar com algo que passa tão desapercebidamente? Eu, estudante, da área da Saúde, eu sim, critico. Criam tantos critérios de exclusão, estigmatizam e discriminam com a desculpa última da saúde. Afinal, quem não acredita no que eles, "especialistas na área", dizem? Minha motivação pela Luta Antimanicomial - e, enfim, por uma melhor Saúde Pública no Brasil - só ganha força depois disso.

"They declared me unfit to live"

sábado, 23 de abril de 2011

Daqui Rumo ao Agora

Trovões rasgam o céu, iluminam o escuro
Deixado pela tua ausência entre as estrelas
Que nunca deixaram de brilhar por medo que estejas
a olhar outras constelações no meio do obscuro..

Risco ríspido que rasga as ruinas, rastros rasos
De uma longa jornada para te encontrar nessas frias
estradas que trilhamos, eternas noites sombrias
sem sinal ou final, apenas riscos de luz dos fardos..

E onde estamos agora? estamos em nós, afora
um no outro? ou estamos sós, afogando-nos
em vazios a dentro, nas lacunas do agora?

E eu me encontro dentro de ti, onde abraçamo-nos
prometendo uma vida de projetos, sonhos em aurora
Sonhando encontrar-te enquando beijamo-nos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Janelas de catedrais vindas dos Céus




Não tem amor melhor que esse, meu amor. 
Janelas de catedrais vindas dos Céus, coloridas e lindas iluminam os seus olhos tímidos envolvidos em construirmos nosso castelo. As cadeiras onde observamos o movimento são de madeira simples. Existe um rio logo perto- calmo e saudoso. E na cama, uma colcha de retalhos feita de memórias distantes, não findas e não compreendidas nos abraça. O cheirinho de bergamota no ar traz a alegria de estar na minha não-oficial terra. E aconchegar-me nos seus braços sempre tão dispostos, sempre carinhosos é o reencontro com o meu desenho das árvores sobrepondo-se ao laranja do pôr-do-sol, o reencontro com a capela da minha infância, o reencontro com meus sonhos, o reencontro comigo mesma! E com você!
Não tem amor melhor que esse, meu amor.
O coral de jovens canta hinos sublimes e todos caminham de mãos dadas rumo ao que está à Frente.
As pessoas falam sobre uma nova Era, de Amor e de União. Vejo-a em você, coração.
Vejo a gente em você, vejo o tempo em você, amor.

terça-feira, 22 de março de 2011

Corta Essa!

Larguei de mão de ser poeta. Tá louco! Cansei de ficar me fazendo de vítima, de transformar o que vivo em coisa bonita, em coisa que mexe. O que vivo me mexe, o que amo me faz mexer, "amor é tudo que move", não é, Gilberto Gil?

Corta essa: decidi viver sem poesia. Faço prosa, prosa, prosa. Tá, eu sei. Prosa poética, né Carpinejar? Deixei de fazer poemas, então. Larguei essa de grande amor. Faço o que passo ser maior ainda por poder enfiar lirismo em tudo que vejo, mas optar ser um pouco cego. É aquela história de perceber o bem só depois que o perdemos. É a vontade de não saber, meu Foucaultzinho.

Não dava mais: decidi viver a minha melancolia e não fazer de conta que a superei. Fui fundo, mais até do que deveria, pra cortar o treco pela raíz. Não dava mais pra mascarar tanto sentimento com um poema, por mais potente que fosse. Não, eu ter ficado mal a semana toda não me levou a nada, não me fez tão maior assim. Rafael Sonic sempre me lembra o quão grande que é ser pequeno, e isso me inspira.


Não, deixar de ser poeta não dá. Mas como se é fotógrafo mesmo sem uma câmera, eu estou sendo um poeta sem poesias. Minha rima fica ali no torpedo SMS de boa-noite; minha métrica, no fim-de-semana tão aguardado; meus versos não se formam quando estou de pé, no trem, e minhas estrofes... Quem precisa de estrofes? Talvez eu tenha as abandonado. Nunca fui muito de lirismo comportado, assim como meu amigo Bandeira.

Bah, que chato. Isso é verdade: com os textos acadêmicos que tenho lido e escrito, peguei a "mania" de citar o autor de toda ideia que exponho. Justo. Justo e chato. Mas é prosa, então tá valendo.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Árvores Grandes Sobrepondo-se ao Laranja do Céu no Papel Amarelo

Eu tenho certeza que era alguém melhor quando pequena. Quando desenhava árvores no pôr-do-sol. Quando era devota. Quando sorria sem compromisso. Eu era grande quando pequena isso já é comprovado. Perdoava fácil. As dores escoavam. Eu pulava e mergulhava com maestria. Tinham plumas me conduzindo às cores do vento.
Tenho saudades dessa época em que meu cabelo era mais brilhante. Tenho saudades de quando um elogio bastava. De acordar cedo para fazer um bolo de chocolate para o café da manhã. De me doar.  A capela do meu antigo colégio. A simplicidade bonita.
Quero voltar ao dia em que meu pai brigou comigo e desenhar mais uma vez aquelas árvores grandes sobrepondo-se ao laranja do céu no papel amarelo.
             E dar para ele com todo o meu amor.

O chão pisado é de um azul royal

Colorido de açaí e de frutas vermelhas, seu castelo de pedras, ajoelha-se para o violão recostado. Preenchimento de espaços, segura a minha mão para atravessar a rua. Pintam-se as cartolinas do colégio, o chão pisado é de um azul Royal. Tantas cores que tem nessas suas mãos e elas passam pelas minhas pequenas rugas do rosto, deixando-as encantadas. Continue a encantar, é ar!   É luz!